terça-feira, 7 de maio de 2013

Nos braços de quem um dia... uma reflexão para um amor incondicional

Nos braços de quem um dia fez uma mulher para o mundo, ou seja, o ser supremo quis trazê-la à Terra, haveria de o mundo receber um presente no dia 06 de maio de 1927, no sítio Cachoeira, na casa baixa e antiga, do aconchego certo, mas das condições humana de uma típica família sertaneja. 
Nos braços de quem um dia iria receber os primeiros carinhos, haveria de aprender que amor de mãe é mais do que divino. Luzia seguraria forte e com amor o seu segundo fruto do casamento com Severino. E tudo aquilo acontecia com a ajuda de sua mãe Veinha e sua sogra Aninha.
Nos braços de quem um dia brincara com seu irmão Cândido nos lajedos da Cachoeira, com a água do Quipauá correndo, do riacho perto de casa que escorria em tempo de inverno e das mãos que mesmo pequenas já buscavam no meio do mato as frutas do inverno pra poder matar a fome da menina que crescia.
Nos braços de quem um dia aprendeu a ser guiada pelo pai até a cidade de Santa Luzia do Sabugí, nas andanças a pé, onde ia estudar e ficar na casa dos compadres e comadres de seus pais para poder ter uma base educacional, a qual ocorreu até o exame de admissão, necessário para ir ao atual 6º ano.
Nos braços de quem um dia haveria de aprender os primeiros afazeres domésticos, ensinados pelas tias maternas e paternas, na convivência com "Madrinha Velha", nasceria a futura e promissora dona de casa que constituiria família antes mesmo de seu irmão.
Nos braços de quem um dia repousaria o carinho e o amor de Juvenal, com quem namoraria e logo casaria no ano de 1950, a moça da Cachoeira haveria de constituir família e assumir em casa simples do Cobiçado a função de dona e continuadora dos valores que aprendera com os seus, dividindo tarefas com seu marido.
Nos braços de quem um dia nasceram 13 filhos, dos quais 9 estariam fora da estatística gritante de mortalidade infantil do Nordeste, e seriam abraçados, abençoados e conduzidos aos caminhos do trabalho e da educação, orientados sempre por ela e seu esposo, sabendo sempre indicar a que funções tomariam os  4 filhos homens e as 5 filhas mulheres.
Nos braços de quem um dia teve que ver a morte de seu filho Genaro, a caminho da distante Santa Luzia, acometido de uma doença congênita que o levava a ter convulsões, aos pés de uma das tantas porteiras que separavam a comitiva levada pelo jumento que puxava a carroça, ela teve que ver os últimos suspiros do seu filho de pouco mais de 2 anos, fato contado tantas vezes com olhos lacrimejados e a voz falha.
Nos braços de quem um dia teve que carregar sua mudança com seus pertences, montados no capricho do também carpinteiro Juvenal, além dos materiais e utensílios domésticos que eram entregues aos filhos mais velhos para serem conduzidos ao próximo sítio, de quem seriam moradores, e nunca proprietários, pois as condições climáticas e financeiras da família que vivia no sertão não os concederam tal empreendimento, algo que nunca foi reclamado por nenhum.
Nos braços de quem um dia teve que mudar-se para a cidade e viver de favor em casas que sempre estiveram na chamada "Rua de baixo", sempre próximas de seu irmão a quem recorreu nos primeiros anos e com quem sempre fez questão de dividir a educação dos filhos, fazendo-os conviver como primos-irmãos, houve sempre a acolhida e o interesse de dar condições dignas e seguras a sua família que agora adolescente e jovens, com os mais novos já crescendo e a casa própria já construída.
Nos braços de quem um dia viu partir seus filhos e filhas para trabalharem, casarem ou melhorar a vida, o amargo da despedida ganhou sempre o consolo da mãe segura e firme de que seu dever de ter feito todos/as estudarem enquanto pudesse, para tornarem-se homens e mulheres de bem e de futuro.
Nos braços de quem um dia recebeu seus primeiros netos e netas, sempre fixando o olhar e pedindo a Deus que os abençoasse, viu e apresentou ao mundo cada um deles, pois sempre foram como troféus que brilhavam em sua sala, exibidos para dizer a todos que chegassem em sua casa: é a filha de Joana, esses são os de Luzia, esses os de Inácio, essas são as meninas de José, estes são os Irene, esses três são de Maria, esses dois os de Goretti e esses são os de Francisco (Guducha).
Nos braços de quem um dia segurou o menino, o terceiro neto daquele ano, nascido em São Mamede, mas sob os cuidados de Salomé, sua nora, e sua filha, Goretti, viu um amor que seria arrematado como aquele a que teve por sua avó, Madrinha Velha, vendo-o como alguém que poderia preencher o tempo que fora dedicado aos filhos, todos (só não Goretti) vivendo fora de casa, encontrando naqueles dias mais um a quem poderia ensinar a ser gente.
Nos braços de quem um dia carregou o menino e foi ensinando-o nos afazeres de casa, ou delegando ao esposo a função de mexer ou ver construir utensílios de couro e madeira, enquanto seus pais trabalhavam fora de casa.
Nos braços de quem um dia viu o menino crescer, estudar e aprender as primeiras letras na sala de sua casa, orientados pela sua filha, foi sempre incentivando e contando as histórias da dificuldade que foi para seu pai dá-lhe as orientações dos primeiros saberes, ou mesmo contando o que teve que fazer para que seus filhos pudessem estudar ou ingressar nas carreiras de trabalho.
Nos braços de quem um dia levou o menino a missa nos domingos pela manhã e aos poucos foi encontrando um apoio nos passos que foram encurtando-se pelo avançar da idade, mas que sempre orientaram para nunca deixar o caminho a que pensava ser a vocação de "padre", deixando por inúmeras vezes tirar todos os enfeites da estante e arrumar todas as imagens de santos e santas para brincar de celebrar a missa e refazer todo o falatório do padre na missa que participara a pouco.
Nos braços de quem um dia aplaudiu as conquistas do menino, sempre trocando o nome com o dos filhos (Marcos, José, Inácio...), viu o adolescente ganhar méritos e notas pelo esforço que fez por gostar de estudar, nunca deixando as dificuldades atrapalharem a sua caminhada, como aquela velha vontade de que nada de mal pudesse acontecer, pois parecia ter sido tirado de suas entranhas e criado no muro e na cozinha de sua casa.
Nos braços de quem um dia viu o menino passar por dificuldades, apressado com os afazeres que sempre arranjou pela igreja, pedindo sempre que tivesse paciência e que não fosse duro nas decisões, brincando com a genética e as características familiares ("Juvenal Aprígio e Zé do Caldo"), ensinou que o silêncio e a humildade poderiam ser sempre a chave para a resolução.
Nos braços de quem viu um dia o menino partir e deixar sua casa correndo na moto, beijando sua testa e partindo para Guarabira, antes que ela percebesse a lágrima nos olhos e ficasse doente da pressão, pedia para que ligasse sempre, algo que devia ser sagrado no domingo, assim como era sagrada a missa.
Nos braços de quem um dia deixou o menino partir e voltar o homem que queria, viu o esforço de seu filho e sua nora em poder mantê-lo lá estudando pelos quatro anos e chegar dizendo que tinha se formado em História, e que um dos motivos para isso tinha sido a criação e as histórias que sempre escutou no terraço de sua avó e seu avô, curioso em saber quem eram seus bisavós, trisavós e parentes, a fim de não perder a memória da família.
Nos braços de quem um dia pediu ajuda para caminhar, porque as pernas "trôpas" e as vezes perambulosas, precisavam que seu neto fosse um dos que a sustentava, só pra não cair - medo tão grande dela - fez que o cuidado fosse se redobrando, pois aquele que um dia possa ter caído aprendendo a andar em sua casa, agora precisava ser um sustento para ela.
Nos braços de quem um dia sentiu a força do alto e pediu para que não acontecesse nada de mal aos seus, teve a coragem de em seus últimos dias despedir-se de cada um, da forma misteriosa e divina que só Deus foi revelando ao coração dela, mas que trouxe o conforto e a forma mais próxima possível de continuar entre nós.
Nos braços de quem um dia veio à Terra, pediu que fosse seu porto seguro, chamando por Jeferson e usando os braços dele para repousar e voltar NOS BRAÇOS QUE UM DIA... O dia, era 30 de março, um sábado, da semana santa, a mais importante para os católicos, querendo ela amanhecer numa Páscoa definitiva, àquela a quem a fé nos revela e repousar nos braços do Pai.

Nos braços de quem um dia trouxe ela pra mim (Rommeryto, o menino, o neto-filho, o homem) deposito a vida e a alma da minha avó, Marina, que se estivesse no mundo hoje (porque comecei a escrever dia 06 e só consegui terminar na madrugada) faria 86 anos de idade, mas quis Deus, em sua infinita sabedoria fazer festa no céu, para que a partir de hoje, o 06 de maio fosse uma data de muita reflexão e oração em torno de tudo o que um dia eu aprendi com ela.
Pois bem Senhor, aqui estou nessa minha humilde reflexão para te agradecer e publicar aos quatro cantos do mundo, que o amor incondicional colocado no coração e transbordado na vida de minha avó, foi sim, sentido por todos nós, familiares, amigos e conhecidos, pois dos teus braços ela vieste e para os teus braços ela voltaste.
Saudades minha avó-mãe, Marina Maria de Morais